9 de julho de 2011

A CAMBALHOTA


Durante a campanha eleitoral, ainda Manuela Ferreira Leite batia na tecla da falta de credibilidade do governo para justificar o mood das agências de rating. Uma vez afastado Sócrates, íamos ser todos muito felizes. O PSD ganhou as eleições. Sócrates foi à vida dele. PSD e CDS-PP fizeram um governo de coligação.

Vieram os lentes.
Metade do subsídio de Natal vai à vida. O PS reitera todos os dias o apoio ao Memorando da troika. O PCP tem mantido os sindicatos com rédea curta. O BE não tem força para contrariar a firma Amaral, Tavares & Oliveira. A todas estas, a Moody's não se comove. Lixo, diz ela. O Estado português pode ir dar uma volta ao jardim da Celeste.

Por altura dos feriados de Junho, ainda o Presidente da República dizia: Não podemos dizer mal das agências de rating. Elas sabem o que fazem. Ontem, Sua Excelência reagiu com irritação ao diagnóstico da Moody's. E, com ele, todas as luminárias da constelação indígena. A decisão da Moody's é... incompreensível, insultuosa, ofensiva, mercenária, terrorista, catastrófica, etc. OK. Todos temos direito aos nossos humores.

José Gomes Ferreira, o analista, também. Mas na casa dele. O homem que durante anos (em nome da razoabilidade técnica) orquestrou a mais sólida campanha anti-PS, não pode agora protestar perplexidade. A Moody's não mudou de Maio para Julho. É dos livros que a liturgia dos números não se compadece com mudanças de cadeira.

Enquanto os outros fazem beicinho, José Gomes Ferreira, o analista, faz praticamente o pino para explicar que estamos a ser vítimas de uma trapaça, que a Moody's está a soldo de Wall Street, que o dólar isto e o euro aquilo, que Barroso não pode dizer mas ele (José Gomes Ferreira, o analista) diz, que... etc. Desta vez é capaz de ter razão. Mas a cambalhota é obscena.

in: Da Leitura

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