15 de março de 2011

A direita com medo, a direita a salivar

"Nunca a direita me causou tamanho espanto. Isto que se chama de democracia vive bem se direita e esquerda conseguirem ser alternativas de poder, com propostas ancoradas em projectos de governação que se vejam e, claro, com a determinação de exercer efectivamente o poder, premissa mais fácil ou mais difícil consoante os tempos que correm, mas que tem de estar sempre presente em quem nos diz votem neste ou naquele Partido, com um rosto que é a ilusão possível de um líder.

Não sei o que se passa com a direita. Com a direita que pode vir a ser Governo. Sei que há uma direita que aprova medidas de austeridade e que depois aplaude e comenta com mãos de Pilatos o discurso do Presidente comparsa que diz demagogicamente dos limites dos sacrifícios que podem ser pedidos aos portugueses.

Essa direita que sabe estar tudo mal e que apresenta proposta nenhuma, que se revê, repito, quase em lágrimas, num discurso de tomada de posse que lhe dá base para uma moção de censura, no dia seguinte pia baixinho e vota contra o instrumento parlamentar que pode derrubar o Governo. Alguém, no seu perfeito juízo, ouvindo o líder do PSD e todos os seus discípulos devorarem o que entenderam ter sido uma crítica violenta ao Governo e mesmo um novo plano de acção acredita que não concordavam com a moção de censura do BE? Concordavam, sim (tal como o CDS). Mas andaram para ali às voltas, tendo a opção de dizer bem alto que pura e simplesmente não reconhecem o BE como força política legítima ou coçar as unhas na madeira, como os gatos, cheios de medo do poder, cheios de medo do poder, cheios de medo do quê? Da responsabilidade.

Não querem, não podem, não sabem agir de acordo com o que dizem, isto é: ser autênticos. Se o fossem, já teríamos tido moção de censura, já teriam soprado ao ouvido de Cavaco que dissolvesse a AR. O PR, líder da oposição, já o teria feito. Mas e depois? Quem passaria a ser o rosto das medidas de austeridade? Não é melhor que seja o Sócrates? Não é melhor que seja ele e que se continue a dizer umas cenas na televisão, com os blogues a dizerem das suas, que isto tem um limite, isto que o PSD aprovou, sim, pois, sempre a referirem-se aos lugares, esses morangos cobertos de chocolate, perguntando se já estarão “preenchidos”?

Pois é. A miséria da direita, quando vamos às suas bases, aos jovens que escrevem na bloga, e que hão-de ser qualquer coisa no futuro, e alguns já são, já têm “lugares” e tudo, os malandros, encontramos a estratégia/preocupação recorrente, em forma de pergunta, de querer saber se “restam” vagas neste ou naquele organismo internacional ou então dão-nos conta de nomeações como se de crimes.

Desgraçada direita sem ideologia, sem projecto, sem propostas, com medo do poder, que só quererá quando entender ser isso bom para si e não quando for isso bom para o país; desgraçada direita que vai contando o tempo apontada para os lugares, salivando, salivando muito, são morangos cobertos de chocolate, não é poder, é uma cadeira quentinha".

Isabel Moreira

in: Aspirina B

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