A asserção é particularmente verdadeira quando falamos da política portuguesa. É sabido que um ministro impopular, que tenha revelado coragem para enfrentar os interesses da sua área de actuação, será tão vilipendiado enquanto estiver no poder, como elogiado assim que o deixar.
De Leonor Beleza a Correia de Campos, há muitos exemplos de ministros muito impopulares que, uma vez feitos ex-ministros, passaram a ser exemplos a seguir, o que diz muito sobre as condições políticas efectivas para reformar as políticas públicas. Maria de Lurdes Rodrigues é talvez um dos exemplos mais acabados desta tendência. Seis meses após ter saído do governo, o que era ontem a sua marca mais distintiva - a incapacidade negocial - desapareceu, para ser agora ocupada por uma nova qualidade - coragem política.
Muitas das vezes toma-se por reforma uma medida que desencadeie contestação política e social. Mas o que distingue uma reforma é, acima de tudo, a irreversibilidade. No fundo, para parafrasear o título do livro lançado este semana por Maria de Lurdes Rodrigues, a irreversibilidade é que "pode fazer a diferença".
E o legado da ex-ministra da Educação fez certamente a diferença na defesa da escola pública.
Por muita contestação que tenha havido, uma coisa é certa: não regressaremos a um tempo em que não havia escola a tempo inteiro, nem aulas de substituição ou em que os professores não eram avaliados e, de facto, não havia diferenciação na progressão na carreira ou existia complacência com o défice de certificação escolar dos adultos. O que fará a diferença é que os próximos governos não revogarão estes progressos.
Jornal i.
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