19 de julho de 2010

FERNANDO JORGE


Morreu o Fernando Jorge. A notícia, embora esperada, calcorreou todo o concelho a partir da manhã de sábado, confirmando o infeliz desenlace do Presidente da Junta de Santo Estêvão.


Mas, sendo inevitável, sobretudo após a degradação do estado de saúde nas últimas semanas, não deixou de causar profunda tristeza e enorme perplexidade. Tristeza pela perda de um amigo leal e afável, de um autarca devotado à causa pública, de um empresário dinâmico e empreendedor, de um cidadão honrado e íntegro, de um pai e marido extremoso. E perplexidade perante a abrupta força da doença, qual inimigo poderoso e traiçoeiro, que o derrubou ainda jovem e de quem ainda havia muito a esperar.


Fernando Jorge foi um defensor intransigente e um combatente incessante pelos interesses da sua freguesia. E não lhe faltaram motivos para vincar a sua perseverança, coerência e espírito de sacrifício, sobretudo na década de 1990, logo após ter assumido, de forma algo inesperada, e por vicissitudes administrativas, a presidência da Junta.


A arremetida de alguns, que, por razões espúrias, tentaram a desanexação de alguns lugares da freguesia e a incorporação em Idães constituiu um teste difícil à sua liderança.


No entanto, provação maior sentiu na insensata intenção da transferência da freguesia para o concelho de Vizela. Perante forças poderosas, de partidos políticos à Assembleia da República, Fernando Jorge soube resistir e – com a colaboração preciosa de outros cidadãos da freguesia, diga-se em abono da verdade – manter inviolável a integridade territorial de uma freguesia pequena, mas sempre disputada. Foi notável a organização de um referendo, que, embora sem carácter vinculativo, constituiu uma expressão indizível da vontade popular, apresentando-se não apenas de forma esmagadora na consulta, como manifestando-se, por maioria avassaladora, para permanecer no concelho de Lousada.


Uma ligação afectiva que se prolongou de forma incessante em todas iniciativas promovidas pela Câmara Municipal: desde o encontro anual de cantadores de Janeiras até à realização dos Jogos Desportivos, as delegações de Santo Estêvão compareceram sempre de forma numerosa e entusiasta.


Nesta vinculação, o papel e interesse de Fernando Jorge foram decisivos, sem esquecer a sua ligação à Associação Desportiva de Lousada, de que foi dirigente da Secção Juvenil.


Estamos, pois, perante um Lousadense de corpo e alma, pronto a dar o seu testemunho de amor à terra, mesmo nas circunstâncias mais difíceis e ingratas.


Por isso, a melhor homenagem que lhe poderá ser prestada é imitar a sua permanente dedicação, o seu bairrismo sadio, a sua integridade moral.


Sucumbiu na última provação, perdendo num combate desigual, mas com a mesma dignidade com que saiu vencedor em todas as lutas para o engrandecimento, valorização e desenvolvimento da sua freguesia.


Resta-nos a sua obra e, sobretudo, o seu exemplo e a sua coragem.

por: Eduardo Vilar (Verdadeiro Olhar)

2 comentários:

Hlena disse...

Deixaste-nos um grande vazio,Amigo.

Unknown disse...

A vida dá-nos grandes amigos, e depois acaba por nos roubar esses amigos!!

Poucos conseguem provar que possuem o que ele possuia:
O respeito e a amizade verdadeira;o poder de enriquecer a alma de quem estva próximo;a coragem e determinação para Olhar em frente, sem medo do futuro, com a certeza do caminho que percorria, e como transmitia essa confiança a quem ia com ele na caminhada...

Contamos com ele mesmo sem ele nos dizer que podíamos contar,
contamos com ele sempre, em todos os momentos... Nunca nos dizia que não, Nunca deixou de ouvir fosse quem fosse...

Resta-nos deixar-lhe um obrigado pelo companheirismo, pela dedicação a uma freguesia, pelo que no deixou de bom e reconhecível.

Acima de tudo resta-nos agradecer pela amizade que nos fará lembrar do Fernando Jorge, todos os dias, com orgulho no amigo que a vida nos deu, e eterna saudade de quem jamais o esquecerá e sente o vazio que ele nos deixou com a sua partida!