A isenção em alguns sublanços ou as "borlas" em percursos locais não escondem o essencial: a partir de 1 de Julho o nosso Governo põe em prática uma medida que descrimina os portugueses que têm o azar de viver no Norte do país. Serão estes os únicos a pagar portagens nas auto-estradas até aqui sem custos para o utilizador (SCUT). Sim, porque é bom lembrar que os portugueses que vivem nesta região vão pagar portagens na A28 (Porto/Viana), na A29/A17 (Porto/Mira) e na A41/A42 (Porto/Lousada); mas os portugueses que vivem noutras regiões do país continuarão a circular gratuitamente nas suas auto-estradas SCUT: na Via do Infante (Algarve), na A25 (Aveiro/Guarda), na A24 (Viseu/Chaves) ou na A23 (Torres Novas/Guarda). Ou seja, pagam apenas alguns o défice que é responsabilidade de todos. Ou então trata-se de um estímulo retorcido a uma das regiões mais pobres da Europa.
É uma espécie de ruído de fundo tão irritante quanto o das vuvuzelas sul-africanas. Sejam especialistas em economia, sejam professores catedráticos, sejam ex-ministros das Finanças, sejam os iluminados que juntam as três qualidades, quando chegam à televisão, meio privilegiado para comentários gongóricos, dizem todos a mesma coisa: estamos à beira do precipício, acabou-se a festa, não há dinheiro para a saúde, nem para a educação, muito menos para pagar reformas. Ao discurso catastrofista que nos contamina a todos juntam o facto de terem feito previsões em devido tempo. Infelizmente, os políticos são incompetentes e o povo é ignorante. E como ninguém lhes prestou atenção, aqui estamos, repetem, à beira do precipício. Soluções inteligentes, que justifiquem o título de especialistas, não têm. O último a juntar-se ao coro foi o presidente da República. Em tom mais contido, mas rematando o diagnóstico de "país insustentável" com um sonoro "eu bem avisei". Falamos de um homem que, ao longo dos últimos 25 anos, esteve sempre no topo da pirâmide do Poder, mas que acha que não tem nada a ver com o pântano em que o país mergulha. Chama-se a isso, em bom português, sacudir a água do capote.
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