Os desempregados merecem, obviamente, todo o apoio da comunidade, mas não é aceitável que, crescendo o desemprego para os níveis assustadores a que está a crescer, tenham ficado, em 2009, 18 mil empregos vagos nos centros de emprego. Há mais de meio milhão de pessoas sem trabalho, a quarta parte das quais não recebe um único cêntimo do Estado, ou porque não trabalhou o tempo suficiente para garantir subsídio ou porque já o esgotou. Significa, isto, para se ter uma ideia da dimensão da crise, que há muitas famílias onde a palavra solidariedade não é um conceito vago e é a principal garantia de sustento no dia-a-dia.
O país precisa de gastar menos mas sobretudo de produzir mais e melhor. Ora, o que acontece é que o Estado faz um esforço grande para pagar os subsídios sociais, verificando-se, em contrapartida, que há casos de gente que prefere acomodar-se ao pequeno subsídio que lhe é dado em vez de, como se costuma dizer, se fazer à vida, aceitando o que aparece e batalhando por melhor.
No mesmo dia em que aquela manchete era publicada, no nosso online, uma jovem contava o seu caso: aceitara um trabalho longe de casa por 450 euros a recibos verdes mas, entretanto, progrediu e melhorou consideravelmente a sua vida. Sortes - dirão alguns. É verdade. Infelizmente sabemos que há muito patrão gozando o remanso da crise: oferecem-se salários baixos, condições ignominiosas e corta-se o vínculo ao mais pequeno sinal de enfraquecimento do mercado. O que isto significa é que as instâncias do Estado devem estar atentas quer aos que vão recusando emprego e sobrecarregando a Segurança Social, quer aos que violam constantemente as regras de contratação seguindo impunes na imposição de regras e condições inaceitáveis.
A sugestão, quer do PSD quer, anteriormente, do CDS, de obrigar os que recebem subsídios estatais a prestar serviços cívicos à sociedade tem de bom o deixar claro que o cidadão que recebe deve, por via disso, se tiver saúde, prestar um serviço que atenue o esforço que a comunidade faz por si. Não se trata de uma punição, mas de um bom princípio. Mas tem de de bom também a possibilidade de mostrar melhor os casos em que há abusos no recebimento dos subsídios. A atribuição de subsídios é uma questão muito sensível, mas da forma como a resolvermos reside parte do sucesso que poderemos ter no combate à crise. E isso não significa, como é óbvio, sacrificar os mais fracos. Significa, "apenas", mudar mentalidades.
in: JN - José Leite Pereira
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