31 de março de 2010

Submarinos: Durão Barroso alegadamente envolvido


O Governo português suspendeu hoje o cônsul honorário de Portugal em Munique, Jurgen Adolff, de “todas as funções relacionadas com o exercício do cargo”, na sequência da investigação na Alemanha de suspeitas de corrupção na venda de submarinos e na qual também aparece o nome de Durão Barroso.

“Em resultado de informação proveniente das autoridades alemães sobre a acção judicial em curso naquele país, o Governo suspendeu de todas as funções relacionadas com o exercício do cargo o cônsul honorário de Portugal em Munique, Alemanha, o senhor Jurgen Adolff, a partir de hoje”, lê-se num comunicado do gabinete do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. A suspensão das funções de Jurgen Adolff do cargo de cônsul honorário de Portugal em Munique manter-se-á “até cabal esclarecimento das investigações que o envolvem pessoalmente”, acrescenta o gabinete de António Braga.

Contudo, Jurgen Adolff garantiu hoje à Lusa desconhecer as acusações que lhe foram atribuídas no processo de compra de dois submarinos, bem como a decisão do Governo de o suspender de funções. “Não sei de nada, nem faço ideia do que me está a falar”, respondeu o cônsul.
Adolff asseverou que não tinha lido qualquer notícia na imprensa alemã ou portuguesa que lhe fizesse referência e não ter também conhecimento da sua suspensão, anunciada hoje de manhã pelo Governo português. “Seria simpático se me tivessem informado de que estou suspenso”, acrescentou o homem de negócios de Munique que é cônsul honorário de Portugal na capital da Baviera há 15 anos.

Por seu lado, o ministro da Defesa português, a propósito deste assunto, assegurou que o Governo vai defender os interesses de Portugal. “O Governo português defenderá intransigentemente os interesses do Estado português nos contratos dos submarinos - eu digo no plural porque há um contrato de aquisição e há um contrato de contrapartidas -, como, aliás, acontecerá em qualquer outro contrato de aquisição de equipamento militar ou de outro tipo”, disse Augusto Santos Silva, em declarações à Antena 1.

A revista alemã Der Spiegel noticiou que um cônsul honorário de Portugal, que não identificava, terá recebido um suborno de 1,6 milhões de euros da Man Ferrostaal para ajudar a concretizar a compra de dois submarinos pelo Estado português em 2004. De acordo com a mesma fonte, o cônsul honorário terá também organizado, no Verão de 2002, uma “reunião entre a administração da Ferrostaal e o antigo primeiro-ministro português José Manuel Durão Barroso”, actual presidente da Comissão Europeia.

Buscas na Ferrostaal

As autoridades judiciais de Munique, que efectuaram várias buscas na passada quarta-feira na Ferrostaal, encontraram “mais de uma dúzia de contratos de consultoria suspeitos”, que visavam “dissimular os canais de pagamento” para que “subornos pudessem ser enviados a responsáveis do Governo [português], dos Ministérios e da Marinha”, refere a revista.

Por seu lado, o Ministério Público de Munique confirmou hoje a realização de buscas na Ferrostaal. Barbara Stockinger, porta-voz do organismo de Munique, que centraliza as investigações de que é alvo a Ferrostaal, confirmou que, na passada quarta feira, 24 de Março, as autoridades fizeram buscas à sede da Ferrostaal em Essen, no estado da Renânia, e a mais 16 filiais e instalações da empresa no resto do país.

Barbara Stockinger recusou-se a prestar quaisquer informações sobre o processo, alegando que as investigações estão em curso, e também não confirmou nem desmentiu se as autoridades judiciais alemãs estão a colaborar com o Ministério Público de Portugal.

Segundo notícias publicadas pela imprensa alemã, a investigação resultou já na detenção de um administrador da Ferrostaal, Klaus Lerker, e há investigações contra mais quatro administradores da empresa. Após as buscas de há uma semana, a Ferrostaal divulgou um comunicado que afirmou que as investigações incidiam sobre “casos de suborno em projectos individuais” e garantiu que irá cooperar estreitamente com o MP para esclarecer as acusações, que, segundo sublinhou, “não são contra a empresa, mas contra indivíduos”.

O caso em Portugal

O processo português relativo ao negócio dos submarinos deverá ter novos desenvolvimentos após a Páscoa. A fase de instrução avança a seguir ao feriado num processo em que sete portugueses e dois alemães foram constituídos arguidos por suspeita de burla qualificada e falsificação de documentos em relação a contrapartidas não realizadas no valor de 36 milhões de euros. O administrador detido na Alemanha não faz parte do lote de dois incluídos no caso português. Há um ano, duas magistradas portuguesas deslocaram-se à Alemanha. Os dados obtidos não foram utilizados, uma vez que a Ferrostaal interpôs um recurso judicial.

in: Público

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