6 de junho de 2010

Achtung, baby

Se isto fosse um texto à antiga, começava assim: "Fontes muito bem informadas do Governo de Berlim disseram…" Seria um início apropriado. O governo Merkl parece querer regressar ao "espírito Helmut Kohl": a Europa é uma "família", e as famílias não expulsam os seus membros com problemas. Ajudam-nos. Para além da metáfora, há algum optimismo: para Berlim, o Euro (ainda) não caiu abaixo de patamares inadmissíveis (por exemplo, 1.14 dólares), e o pacote de "estabilização" parece resultar, como primeira barreira.

Os alemães são, no entanto, pouco piedosos com a Grécia. Afirmam que Atenas escondeu números e factos, e pedem que, para não haver mais más surpresas, fique uma delegação "pró-activa" do Eurostat em cada membro, que funcione como polícia de investigação, e não se limite a receber estatísticas oficiais do governo local.

Claro que Berlim também pode ser acusado de medidas artificiais. A recente queda do desemprego na federação, por exemplo, fez-se à custa do aumento do trabalho precário e temporário.

E por que é que Berlim não quer - na realidade - a solução FMI? Primeiro, porque não é europeia (causa política). Segundo, porque as suas condições não são mais exigentes do que a austeridade proposta (causa técnica).

Berlim parece ter hoje dois adversários na Europa: "certos membros da comissão", que o séquito de Merkl considera mal preparados e informados, e a França, que a Alemanha vê como propondo medidas contraditórias para combater o fogo. Onde estão os eixos Bona-Bruxelas, e Paris-Berlim?

Para os alemães, os especuladores não são causa mas consequência da crise. Ainda assim, Berlim actuou de surpresa sobre o câmbio oportunista de acções na bolsa, para mostrar que os governos ainda possuem armas regulatórias de choque, sem ter de avisar o "inimigo".

Há soluções? Absolutas, não. Nem a geométrica Alemanha as tem. Mas Berlim recupera a sabedoria da "economia social de mercado". Nem nacional ou internacional-socialismo, nem capitalismo "laissez faire" e antropófago.

E Berlim quer "produtividade" (definição universalmente aceite, precisa-se), e "politique d'abord".

Mas este é o problema. Se a política comanda o barco, haverá sempre alguém - populista ou elitista - a dizer que o equilíbrio das finanças é secundário. Erguer-se-iam outros valores: a salvação da pátria, do povo, da região, da família.

Portanto: "atenção, queridas (e queridos)"!

in: JN

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