Portugal já foi um país com uma imprensa de respeito, livre e independente. Hoje, por diversas razões, estamos rendidos ao imediatismo sensacionalista efémero.
À parangona fácil e à desinformação condicionadora. Pouco importa a veracidade ou a pertinência do objecto noticiado. Pouco importa a legalidade no acesso à informação ou a verificação dos factos.
Esta reflexão resulta da análise às constantes "notícias" sobre os apoios que o Simplex (blogue de apoio ao PS nas eleições legislativas) terá recebido por parte do Governo. Apoios, entenda-se, financeiros e logísticos. Fui, como sabem, um dos coordenadores do Simplex. E não recebi nada por isso. Tive uma participação voluntária num projecto que procurava apoiar a vitória do PS nas recentes eleições legislativas; projecto que hoje voltava a liderar.
Admito que causámos "estragos", não só porque dominámos o debate na blogosfera (mais de 5000 visitas/dia contra pouco mais de 2000/dia no Jamais), ou porque escrevíamos no Diário Económico todos os dias (juntamente com o Jamais); mas porque fomos uma voz socialista - com força e ouvida - num espaço de comunicação geralmente dominado pela direita e pela extrema-esquerda. Sobre a questão financeira estamos falados. É mentira que o Simplex tivesse alguma vez sido apoiado.
Sobre a questão logística é verdade que as pessoas que escreveram no Simplex tinham informação política. Informação pública e publicitada, entenda-se. Afinal estamos a falar de um blogue político de apoio a um projecto político. Não seria estranho que tal não acontecesse? Não tem o Pacheco Pereira, por exemplo, acesso a informação, quando escreve? Qual é então a notícia? Nenhuma.
O interesse jornalístico deste assunto é, como se vê, zero. Já o interesse político é elevado. Importa atacar o PS e o governo socialista, e contribuir para o clima de suspeição e de conspiração. Só assim se entende que uma prática legítima e expectável como é a utilização de informação pública por parte do Simplex seja motivo de apreciação tão escandalosa.
A verdade é que hoje vivemos num país amordaçado. Novamente amordaçado. Já não nos capa a liberdade o ferro da ditadura ou a guilhotina da censura. Já não nos perseguem nem nos ameaçam nas ruas ou no trabalho. Tudo é mais subtil.
Disfarçam-se ataques políticos com peças informativas; e jornalistas e directores de jornais assumem o papel dos novos censores. Publicam, sob o manto da imparcialidade, mentiras, meias-verdades e boatos. Tudo que justifique mais uma venda, mais um ataque ao Governo (que vende). Tudo o que menospreze ou condicione a governança do país e os seus principais actores políticos. E queixa-se a direita (ou alguma desta) que não tem liberdade de expressão? Pois para mim tenho que só a direita (e a extrema-esquerda) têm hoje essa liberdade. Liberdade e impunidade.
Ser hoje da esquerda socialista e democrática, do PS, é quase um crime de lesa-pátria, o que prova o sucesso da campanha condicionadora do debate público que referi. O exemplo da perseguição ao Simplex é apenas um, entre muitos. É apenas mais um exemplo do estado do país onde vivemos
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José Reis Santos, Historiador
in: Diário Económico
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