Tendo em conta todas as suspeições que envolvem o banco e o seu principal responsável, que se encontra detido há mais de um ano e que foi Secretário de Estado no Ministério das Finanças de um dos seus governos, é de elementar principio ético, pois trata-se de um Presidente da Republica em funções e candidato a um novo mandato, saber as razões de tal operação. Era prática da sociedade detentora do banco fazê-lo? Porquê? Foi o caso de Cavaco e da família um caso esporádico ou houve outras pessoas que beneficiaram do mesmo procedimento? Se sim, quem foram?
É algo que se impõe saber, sobretudo agora que não se trata de um banco privado mas de um banco nacionalizado, que recebeu vultosas injecções de capital com dinheiro dos contribuintes, ao que tudo indica por desmandos de gestão de que, aparentemente, a operação ruinosa para a sociedade detentora o banco, de que Cavaco beneficiou, parece constituir um bom exemplo.
Não vou ao ponto de sugerir que se ponha a Procuradoria a investigar a vida do homem e da sua família a pente fino, como durante anos fizeram com Sócrates, ou sequer que se ponham a escutar e depois ponham na comunicação social as conversas que tenha mantido com o seu ex. Ministro e Conselheiro de Estado, Dias Loureiro ou com o seu ex. Secretário de Estado Oliveira Costa, como sucedeu com o PM no caso “Face Oculta”.
O mínimo que se pode exigir a um Presidente em fase de recandidatura é que seja ele próprio a esclarecer estas dúvidas, uma vez que, em democracia, ninguém está acima de toda a suspeita. Para Cavaco este princípio parece valido para todos, excepto para ele. Será talvez por isso que cada vez que se lhe coloca a questão, como recentemente aconteceu nos debates televisivo, se abespinha e fica possesso.
Tendo porém constatado que esse procedimento não era suficiente para fugir ao assunto, decidiu usar o truque habitual nestas circunstâncias. Criar um facto político novo em torno do mesmo. O problema do BPN não foi afinal a má gestão ou até a eventual gestão criminosa que os factos conhecidos parecem indiciar, levada a cabo pelos seus amigos, mas a incompetência da actual administração da responsabilidade da CGD, cujo Presidente, por acaso, é um outro ex.ministro seu e apoiante e membro da Comissão de Honra da sua candidatura, Faria de Oliveira. Os responsáveis pela actual situação do BPN, segundo Cavaco não são aqueles que puseram em causa as poupanças e milhares de depositantes que, não fora a intervenção do Estado, as teriam perdido, mas aqueles a quem foi confiada a missão quase impossível de salvar um banco na calamitosa situação em que, há dois anos, foi nacionalizado.
A Administração da Caixa Geral de Depósitos, o maior banco português e publico, perante esta avaliação da sua competência profissional pelo mais alto magistrado da Nação, limitou-se a dizer que Sua Excelência nunca havia pedido informações para esclarecer eventuais duvidas que tivesse. Pedir a demissão ou pôr o lugar à disposição, nem pensar.
Quer isto dizer que em Portugal, neste ano da graça de 2011, é possível que um PR, que não dispõe de informação detalhada sobre o assunto, em momento de crise e de desconfiança no sistema financeiro, enxovalhe na praça publica a administração do maior banco do país sem que isso tenha qualquer consequência, quer para ele quer para a liderança do banco.
Só pode ser porque, afinal, em Portugal, há mesmo pessoas acima de toda a suspeita".
Capoulas Santos
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