3 de janeiro de 2011

À espera da Moção de Censura

"Entramos em 2011 sem saber se chegaremos ao próximo orçamento com este governo. Antes de mais, isso depende de fatores financeiros. Depende da execução orçamental, de como correrá a próxima ida aos mercados da dívida e da vinda ou não do FMI para, com a receita imposta pelo diretório europeu, destruir, como está a fazer na Grecia e na Irlanda, o pouco que resta da nossa economia. Será isto que determinará o comportamento do PSD. Se lhe interessa ir a votos já este ano ou não.

Mas as contas são mais complicadas do que parecem. De forma mais ou menos clara, Bloco de Esquerda e PCP já deixaram passar a ideia de que não viabilizarão uma moção de censura vinda do PSD ou do CDS. A atitude é inteligente. O seu eleitorado não compreenderia essa aliança contra-natura.

Mas existe outra possibilidade: serem os próprios BE ou PCP a apresentarem moções de censura. E aí, caberá ao PSD decidir se quer ou não fazer cair o governo, sendo certo que Passos Coelho estará pouco preocupado com a incoerência de andar a viabilizar um orçamento para depois se aliar a quem a ele se opôs de forma mais aguerrida. Se lhe interessar, vota a favor, se não vier em boa altura, votará conta. Ou seja, os dois partidos à esquerda do PS estarão numa situação difícil nos próximos meses. Só eles podem dar o passo decisivo para fazer cair Sócrates e levar Passos Coelho ao poder. Ou fazem oposição sem tentar fazer cair o governo, e serão acusados de inconsequência, ou arriscam-se a ajudar a direita parlamentar a chegar ao governo, e poderão pagar bem cara, nas urnas, a aventura.

A outra possibilidade é ser o PS a precipitar eleições, através da apresentação de uma moção de confiança. Um gesto de desespero, que poderia ser usado perante a certeza de que a situação ainda vai piorar e de que mais vale ir a votos antes de tudo se desmoronar. Improvável, já que isso salvaria a direita e a esquerda à esquerda do PS das culpas de uma cirse política, o único trunfo que poderia sobrar a Sócrates numas eleições.

Do ponto de vista económico, pouco ou nada depende do que aconteça em Portugal. O mote da austeridade está dado e dele só pode vir mais crise. Resta esperar por o que acontece na Europa, onde nos demitimos de ter qualquer tipo de opinião. No plano interno, é no Parlamento que tudo se vai jogar. E aí, cada um vai ter de estar atento aos gestos do vizinho. Será um ano de espera em que todos sabem que quem der o primeiro passo pode ser vítima da sua própria imprudência".

Daniel Oliveira (in: Arrastão)

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