"Entramos em 2011 sem saber se chegaremos ao próximo orçamento com este governo. Antes de mais, isso depende de fatores financeiros. Depende da execução orçamental, de como correrá a próxima ida aos mercados da dívida e da vinda ou não do FMI para, com a receita imposta pelo diretório europeu, destruir, como está a fazer na Grecia e na Irlanda, o pouco que resta da nossa economia. Será isto que determinará o comportamento do PSD. Se lhe interessa ir a votos já este ano ou não.
Mas as contas são mais complicadas do que parecem. De forma mais ou menos clara, Bloco de Esquerda e PCP já deixaram passar a ideia de que não viabilizarão uma moção de censura vinda do PSD ou do CDS. A atitude é inteligente. O seu eleitorado não compreenderia essa aliança contra-natura.
Mas existe outra possibilidade: serem os próprios BE ou PCP a apresentarem moções de censura. E aí, caberá ao PSD decidir se quer ou não fazer cair o governo, sendo certo que Passos Coelho estará pouco preocupado com a incoerência de andar a viabilizar um orçamento para depois se aliar a quem a ele se opôs de forma mais aguerrida. Se lhe interessar, vota a favor, se não vier em boa altura, votará conta. Ou seja, os dois partidos à esquerda do PS estarão numa situação difícil nos próximos meses. Só eles podem dar o passo decisivo para fazer cair Sócrates e levar Passos Coelho ao poder. Ou fazem oposição sem tentar fazer cair o governo, e serão acusados de inconsequência, ou arriscam-se a ajudar a direita parlamentar a chegar ao governo, e poderão pagar bem cara, nas urnas, a aventura.
A outra possibilidade é ser o PS a precipitar eleições, através da apresentação de uma moção de confiança. Um gesto de desespero, que poderia ser usado perante a certeza de que a situação ainda vai piorar e de que mais vale ir a votos antes de tudo se desmoronar. Improvável, já que isso salvaria a direita e a esquerda à esquerda do PS das culpas de uma cirse política, o único trunfo que poderia sobrar a Sócrates numas eleições.
Do ponto de vista económico, pouco ou nada depende do que aconteça em Portugal. O mote da austeridade está dado e dele só pode vir mais crise. Resta esperar por o que acontece na Europa, onde nos demitimos de ter qualquer tipo de opinião. No plano interno, é no Parlamento que tudo se vai jogar. E aí, cada um vai ter de estar atento aos gestos do vizinho. Será um ano de espera em que todos sabem que quem der o primeiro passo pode ser vítima da sua própria imprudência".
Daniel Oliveira (in: Arrastão)
Sem comentários:
Enviar um comentário