Há hoje em Portugal, até onde é possível fazer contas, mais de 300 mil pessoas que passam fome e dependem, para sobreviver, da ajuda de instituições como o Banco Alimentar Contra a Fome e outras. "Recebemos todos os dias pedidos de ajuda de pessoas sem dinheiro para comer, para medicamentos, renda, água ou uma botija de gás para cozinhar", diz a AMI ao DN. "Já não são só os sem-abrigo a procurar as carrinhas de distribuição de comida", acrescenta Heloísa Teixeira, da Legião da Boa Vontade. E, depois, há ainda a chamada "pobreza envergonhada", que para já não procura ajuda porque a vai conseguindo, designadamente a alimentar, junto de amigos, vizinhos ou familiares, e da qual não se conhece a verdadeira dimensão.
Cavaco Silva tem pois todos os motivos para, como disse, se sentir envergonhado com a situação de fome que muitos portugueses hoje vivem.
Mas deveria sentir-se também envergonhado, e deveria dizê-lo, por, simultaneamente, outros portugueses viverem na mais escandalosa abundância (como sucedeu nos tempos das vacas gordas dos fundos comunitários em que foi primeiro-ministro e em que nasceu o Banco Alimentar Contra a Fome), e banca e grandes empresas todos os dias anunciarem lucros da ordem dos milhões que, na maior parte dos casos, irão parar a "offshores", enquanto avidamente disputam a pobres e desempregados as cada vez mais escassas verbas com que o Estado ainda os vai apoiando.
in: JN
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