"Nas últimas semanas, muito se tem especulado sobre a eventual entrada do Fundo Monetário Internacional no nosso país. Essa possibilidade parece-me, todavia, imprudente, porquanto obrigará os portugueses a fazer sacrifícios desajustados, que adensarão a instabilidade social do país.
1. Não obstante julgar ser desnecessária uma intervenção do FMI em Portugal, importa desmistificar o papel desta instituição, que existe precisamente para socorrer países com dificuldades. O FMI não deve ser encarado como um recurso de desespero para salvar as contas do país, pelo que, mesmo intervindo segundo a lógica dos credores, urge desdramatizar a sua intervenção e, ao invés, fazer uma análise lúcida das consequências que daí adviriam.
2. Em torno desta discussão, é evidente a ânsia de alguns protagonistas políticos, desejosos de ver a imagem de Portugal profundamente descredibilizada. Enganam-se, contudo, os que entendem poder retirar proveitos políticos do eventual regresso do FMI a Portugal. Tal ocorrência prejudicaria de forma transversal os partidos do nosso regime democrático e seria encarada como uma situação de descrédito para toda a classe política – não exclusivamente para o Partido Socialista.
3. Os contornos da situação económico-financeira portuguesa são substancialmente diferentes dos da Grécia ou da Irlanda. Se, por um lado, o nosso endividamento público está em linha com o endividamento de grande parte dos Estados europeus, por outro, não se verifica em Portugal um risco acrescido de colapso do sistema financeiro ou do sector imobiliário. Ora, decorre desta sensata constatação uma total incompreensão pelo valor dos juros da nossa dívida pública, atendendo à realidade de outros países. E radica nessa mesma constatação a extemporaneidade da entrada do FMI no nosso país.
4. O momento presente deve propiciar uma profunda reflexão sobre os mecanismos de solidariedade entre os Estados-membros da União Europeia. Sem pôr em causa a inequívoca necessidade de consolidação das finanças públicas, deve ser promovida uma ampla discussão sobre o impacto contraccionista de medidas que têm vindo a ser tomadas em diversas economias. Propostas como a emissão conjunta de obrigações ou a criação de um fundo monetário europeu devem ser equacionadas no âmbito de um verdadeiro projecto de igualdade, unidade e solidariedade à escala europeia".
Nota: artigo publicado na edição N.º 5 do jornal «Cons(c)elho», a convite da Juventude Popular do Porto.
por: João Torres (Presidente da Federação Distrital do Porto da JS)
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